sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Talvez

Talvez Clara estivesse errada. Talvez não. Quando ela disse ao pessoal da repartição que sentia pena pelo que se sucedia, todos a condenaram e a fizeram lembrar o quanto ele riu na ocasião em que sua mão gotejava sangue por aquele acidente de trabalho. “É verdade”, respondeu. Mas logo ela se colocou no lugar daquele homem, imaginando o quanto, talvez, a vida dele perderia o sentido, caso o que a ‘rádio peão’ divulgava, realmente acontecesse. Ela pensava também na qualidade de seu trabalho. Mesmo que ele não fosse nenhum exemplo a ser seguido, sabia tudo sobre a fórmula do o que, quem, quando, onde, como e por quê! Isso ele sabia e ninguém podia negar.
Mas a vida tem dessas coisas. Não basta você ser apenas bom naquilo que faz. Tem que ser humano. Ter humildade. Saber reconhecer os méritos alheios, as qualidades e até mesmo os defeitos. Mas sem esbravejar. E foi nisso que ele errou. Não teve a humildade nem a honradez de fazer jus ao cargo que sempre ocupou. E agora, talvez ele pague um preço caro por isso. Não pelo dinheiro, mas pela perda de tempo. Perda do tempo que teve não só para ensinar, mas para aprender. Porque ali se aprendia também. Mesmo que fosse com os erros. E era nisso que Clara pensava a cada vez que olhava para Ernesto e percebia nele um quê de infelicidade.

“Ele só precisa aprender a viver”, dizia. Mas não adiantou. Melhor que ela, Cibele bem definiu: “Somente assim para ele aprender. Ele plantou e colheu”.

Talvez isso tudo fosse real, talvez não.

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