sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Para lavar alma e coração

A chuva leva dias, leva sol, leva ruas, leva sujeira. A chuva lava dias, lava sol, lava ruas, lava sujeira. A chuva lava almas. A chuva lava corações. A chuva lava almas e corações.

Para quem anda meio tristonho, sem motivos aparentes para sorrir, a chuva leva o sol. A chuva lava ainda mais a vontade de viver. Passam dias, passam horas e a chuva permanece, enlouquece, chegando talvez a transformar o viver.

Para os que amam, amam a tudo e a todos. Amam a vida por si só, a chuva age como sinônimo de limpeza, de compaixão. Chuva que limpa ruas, limpa o ar. Chuva que lava almas e corações. Mas, como tudo em exagero, a chuva também faz estragos. Leva almas. Leva corações. E para os que amam, a chuva acaba por se transformar em motivo de dor e novamente, compaixão.

E a chuva permanece. Lavando almas e corações. Acordar em um dia chuvoso, olhar pela janela e não avistar ninguém. Abrir o guarda-chuva, caminhar pela cidade e enxergar em cada gota d’água um motivo a mais para viver.

A chuva traz a reflexão. O silêncio vem à tona, a lágrima cai como a gota que escorre – lentamente – pela janela daquele ônibus. E então a inspiração. Inspiração para sorrir, inspiração para seguir, inspiração para viver. Afinal, se até nas piores tempestades a natureza não deixa de manifestar suas belezas, por que nós, meros mortais, haveríamos de desistir em simples dias de garoa? A chuva vem. Vem, leva e lava. Lava almas e corações. E que ela lave o seu também.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Rugas, muitas rugas

Pablo: Ei você!

Roberto: ...

Pablo: Você mesmo! Já esqueceu de mim?

Roberto: De você não, mas de seu rosto.

Pablo: Meu rosto? Mas o que há de novo por aqui?

Roberto: Rugas, muitas rugas.

Pablo: E o que tem contra? Isso é sinônimo de experiência.

Roberto: Experiência não sei de quê. Você continua o mesmo meninote, com as mesmas manias e...

Pablo: E... o que?

Roberto: Nada!

Pablo: Fala!

Roberto: E as mesmas mulheres.

Pablo: Hã?

Roberto: Mulheres não, né? Meninas. Você não tem vergonha?

Pablo: Vergonha deveria ter você.

Roberto: De que?

Pablo: De ter me dispensado.

Roberto: Dispensei mesmo.

Pablo: E agora fala isso por puro despeito.

Roberto: Despeito de que? Por que?

Pablo: ...

Roberto: Me poupe, né?

Pablo: Poupar? Você nunca me poupou. Por que agora eu iria poupá-lo?

Roberto: Ai como você me cansa.

Pablo: Agora é assim. Mas não mude de assunto. Fale a verdade.

Roberto: Que verdade?

Pablo: Sobre as rugas.

Roberto: Que rugas?

Pablo: As minhas.

Roberto: O que tem? São suas, oras. O problema é seu. Veja como minha pele continua...

Pablo: Não venha jogar na minha cara mais uma vez que é mais jovem que eu.

Roberto: Até porque, você sempre soube disso.

Pablo: Eu e meus familiares...

Roberto: É, você e aquela sua familizinha que preferiu você no meio de tantas pré-adolescentes indefesas do que...

Pablo: Pare! Não complete a frase.

Roberto: Por que? Ainda não tem coragem de assumir?

Pablo: Não...

Roberto: Você é um covarde mesmo. Tanto glamor em vão.

Pablo: Em vão foi o que senti por você.

Roberto: E por acaso você sentiu algo?

Pablo: Claro que senti Roberto.

Roberto: Eu sempre duvidei.

Pablo: E eu sempre desconfiei que você não acreditava em meu amor.

Roberto: Que amor é esse que se deixa levar por qualquer fama?

Pablo: Você jurou entender...

Roberto: Jurei enquanto pensei que você fosse seguir fiel.

Pablo: Mas não deu.

Roberto: É, eu notei. Nunca mais me ligou. Nunca mais apareceu...

Pablo: Mas eu queria, eu juro!

Roberto: Não jure em vão!

Pablo: Não quer que eu faça como você?

Roberto: Não... só não quero que você repita esse gesto mais uma vez. Já engana tanta gente por aí. Outro dia, uma jornalista me procurou...

Pablo: Você não disse nada, disse?

Roberto: Não... mas minha vontade era dizer. Gritar ao quatro ventos que você não é o garanhão que todos acreditam ser.

Pablo: Se você fizesse isso...

Roberto: Se eu fizesse isso o quê? Usaria seu dinheiro? Daria sumiço em mim?

Pablo: Não é disso que estou falando.

Roberto: Do que diz então?

Pablo: Queria mesmo era dizer que se você fizesse isso, eu vou seria o cara mais feliz do mundo, pois só assim eu conseguiria abrir meu coração para todos.

Roberto: Teria coragem?

Pablo: Teria....

Roberto: Mas eu não.

Pablo: Por que?

Roberto: Olha para sua cara!

Pablo: O que tem?

Roberto: Rugas, muitas rugas...